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Cidade natal e suas memórias |Turnê (145y)

O cheiro do asfalto molhado sempre me trouxe uma estranha sensação de familiaridade. Em Montreal, a chuva e seu jeito próprio de transformar a cidade, como se lavasse o passado e deixasse tudo pronto para um recomeço. Hoje, enquanto caminhava pelas ruas que um dia foram meu lar, senti aquele mesmo cheiro. O mesmo frio no ar, o mesmo brilho das luzes refletindo nas poças. Mesmo depois de taaaanto tempo.
Crescer aqui significou aprender a conviver com ausências. Meu pai morreu quando eu ainda era muito jovem, e por muito tempo, guardei nossas lembranças como se fossem relíquias raras. O café que ele fazia toda manhã, o jeito que ria quando eu inventava coreografias desajeitadas pela sala, o som da música que ele colocava para tocar enquanto cozinhava. A saudade dele ainda aperta muito.
E então, hoje, eu subi no palco. Aqui. Na minha cidade. No lugar onde tudo começou, onde eu comecei.
A luz dos holofotes esquentava minha pele, o barulho da plateia preenchia o espaço, mas por dentro, eu sentia um tipo diferente de silêncio. Não um silêncio vazio, um silêncio aquele que antecede algo grande. Respirei fundo e, por um segundo, me permiti sentir tudo. O nervosismo, a ansiedade, a felicidade. A primeira música saiu, e com ela, toda a tensão se também. Era como voltar para casa e encontrar um velho amigo, não importa o quanto eu tenha mudado, uma parte de mim sempre será feita dessas ruas, dessas memórias, do amor do meu pai que nunca se apagou.
E então, eu cantei. Não apenas para o público. Não apenas para a banda. Mas para mim. Para ele. Para a nossa cidade.
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Posted 3/25/2025, 7:00 PM