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Relax
Acordei cedo hoje, antes do sol decidir se queria nascer. Fiquei ali, deitado, observando o teto, tentando lembrar se sonhei alguma coisa; mas não veio nada. Só aquele vazio que me acompanha como um velho conhecido. Levantei devagar, abri a janela e o ar frio me cortou o rosto. Por um instante, pensei em fechar e voltar pra cama. Mas não adiantaria. O sono já me tinha abandonado há muito tempo.
Coloquei o café pra passar. O cheiro subiu, mas não trouxe memória nenhuma, e isso me deu um certo alívio. Antigamente, cada cheiro me levava pra algum lugar, pra alguém. Agora, tudo é neutro, sem cor, sem gosto. Como se minha mente tivesse apagado.
Pego a caneta. Olho a folha em branco.Ela me encara como se soubesse demais. Quase sinto vontade de pedir desculpas por não saber o que escrever. Mas talvez o silêncio também seja uma forma de dizer as coisas.
Passo o dedo pelo papel, e ele é frio, liso... puro. Invejável. Gostaria de ser assim também; uma folha em branco, sem rasuras, sem histórias que me mancham.
Sento-me, o peso do corpo afunda na cadeira.Às vezes escuto passos na minha cabeça, ecos de vozes que já se foram. Tento ignorar. Mas o tempo é um mentiroso. Ele só esconde melhor.
O passado é uma sombra que insiste em me acompanhar, mesmo quando todas as luzes estão apagadas. Nessas horas, fecho os olhos e imagino que minha vida começa agora, aqui, nesse segundo; sem ontem, sem ninguém.
Respiro fundo. A caneta toca o papel, mas não escreve.Talvez seja isso. Talvez eu tenha medo de escrever porque cada palavra é uma lembrança disfarçada. Prefiro o branco. Ele não me questiona, não me exige explicações. Ele aceita meu silêncio.
Quero um lugar onde eu possa existir sem precisar contar quem fui.
Um lugar onde o passado não me alcance.
Onde tudo recomece; ainda que eu nunca saiba de onde.
Posted 10/17/2025, 11:00 PM