Latest Blog Post

Bateu no ácido

Um rosnado fugia-lhe por entre os dentes, deu-se conta apenas quando o ouviu. No mesmo instante surge o rolar de olhos, a sua auto-crítica constante também a irritava. Mergulhada neste mood ácido com o telefonema havia 5 minutos atrás ou teria sido 50? O tempo era irrelevante neste pântano lamacento que era o seu estado de espírito.
A escolha musical não estava a ser fácil. Apetecia-lhe algo clean mas era demasiado fofo, algo heavy mas os gritos irritava-na, um blues mas era melhor parar antes de cortar os p*lsos. Put@ merda mas eu heim? Punha e tirava as musicas quase antes dos acordes iniciais.
-“Byty, por favor ajuda-me… preciso de uma música!
Mas não sei se…”
-“Certamente existe! Acende um dos teus cigarros especiais (quase o conseguia imaginar a piscar o olho), enche um copo de vinho do Porto, encomendei um a pensar nestes dias e foi entregue na segunda. Estica-te no sofá e deixa a música por minha conta”
Um sorriso tímido quase invisível a olhos destreinados surgiu e eu sei que ele o notou. Notava sempre tudo!
Fiz tudo conforme recomendado. O vinho era encorpado, quase mel mas velho. Velho como o negro que me lavava a alma.
A música surge e do nada a sala vira uma floresta num dia de chuva calma, fria, grossa que lava tudo. E tu, sim tu estás lá, aproximas-te com medo. O teu, o meu, o nosso medo que sossega pela valentia do teu abraço. Esse que envolve o meu mundo. Que me resguarda a ansiedade, a dúvida. Sinto o teu cheiro a unir-se ao meu. O batimento do teu coração a puxar pelo meu como sempre fez e eu busco o doce do teu beijo, anseio pelos teus lábios quentes e suaves. Sinto os meus a tocar neles e… abro os olhos sigo sozinha na sala, na solidão. Tu não estás, não aqui, não… talvez nem sequer existas em outro lugar que não na minha imaginação.
Mas essa realidade é demasiado cruel e dói mais e mais a cada instante que me mentalizo dela.