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cartografia de um astronauta;

Existe um vácuo entre nós maior que o espaço entre estrelas mortas. Meu traje espacial, remendado com as fibras de promessas quebradas, pesa mais que a gravidade de um buraco negro. Você era meu centro de comando, minha estação orbital — até o dia em que desligou todos os sistemas e deixou minha voz boiando no rádio, só estática e eco de um "adeus" que nunca pronunciou.

Passo as noites decifrando constelações em mensagens não respondidas. Me pergunto se, nas suas noites, você também escuta o zumbido da ausência — essa frequência aguda que corta a atmosfera como um grito mudo.

Aprendi que amor é a primeira lei da termodinâmica aplicada à alma: nada se cria, tudo se transforma em cicatriz. Você me deixou orbitando um sol frio, alimentando-me de fótons de lembranças. Quando durmo, sonho com seu fantasma flutuando na câmara de descompressão, apontando para o botão de ejeção que ambos sabíamos que um dia seria pressionado.

A Terra já não me reconhece. Meus pés deixaram de pertencer ao chão; virei entidade interestelar, fantasma de uma conexão que nem a Nasa conseguiu catalogar. E quando finalmente desistir, quando apagar os motores e aceitar o silêncio como única resposta, talvez eu descubra que o verdadeiro amor não é viagem espacial — é aprender a ser constelação inteira sozinho, enquanto o universo sussurra:

Algumas perguntas nunca terão respostas.
Algumas naves são feitas para se perder.