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Ano 145 | Palavras vazias pt. 1

A arte de enganar alguém com maestria!

Hoje eu recebi uma carta!

Parece algo incomum, até mesmo ultrapassado, quando vivemos numa sociedade em que há tantos meios de comunicação avançados, mas receber uma carta de outra pessoa me fez sorrir.

Ali estavam as palavras dela escritas a mão, sua caligrafia registrada em cada letra e curva, ali estava o tempo que ela dedicou parando um momento de seu dia para escrever porque quis que eu me sentisse importante em sua vida.

Sorri, chorei, me senti acariciada mesmo tão longe dela. Corri pegar uma folha em branco para escrever de volta à minha amiga. Escrevi o quanto aquilo significava pra mim, coloquei todas minhas emoções verdadeiras nas palavras esperando que ela absorvesse meus sentimentos através delas, até mesmo se sentisse amada e abraçada como eu me senti. Ao terminar, reli cada palavra, pois queria que tudo estivesse dentro da minha perfeição.

Fui alegre até o correio da cidade e enviei a resposta.

Tempo depois, vi pelas redes sociais ela fazendo algo que sabia que me machucaria. Fiquei sem reação. Foi questão de eu chegar em casa após enviar a carta no correio. Petrifiquei.
As palavras ecoaram em minha mente: "Talvez seja melhor reduzir o contato até conseguir cortar ela de minha vida", que frase horrível de se pensar após ter escrito toda minha sinceridade.

Sentei na cama e nem conseguia mais chorar, de tanto que já havia chorado no passado por aquelas mesmas ações. Pode me chamar de ingênua, mas eu não posso me desfazer de minha ingenuidade, senão... eu seria apenas mais uma casca vazia.

Pensei em todas às vezes que fui recepcionada na clínica psicológica com um sorriso da recepcionista, falando comigo com calma e carinho.
Todas as vezes que fui numa loja genérica imprimir um trabalho de escola e fui chamada de "Flor" pela atendente simpática, tentando criar uma proximidade que nunca existiu entre nós.

Continuação